"Nossa empresa alterou o conceito de 360º com o objetivo de não mais
avaliar, mas de regular as relações internas de uma equipe. Desta forma a equipe pode se comprometer de
maneira sadia e serena."
Quem fala em avaliação 360º
normalmente fala em avaliação no sentido inverso, por todos aqueles com quem se
trabalha: gerentes, colaboradores, colegas.
Mas o conceito é fluido a ponto de suscitar temores. Alguns denunciam o
risco de uma normalização perfeita, com o objetivo de produzir perfis que os
recrutadores qualificariam de “lisos” e “polidos”. Outros duvidam da veracidade
sob o ponto de vista pessoal, profissional ou mesmo de autoridade da
hierarquia. Isto porque avaliação
significa em último lugar sanção e, portanto, risco para o avaliado.
Tais temores se não forem
tratados vão descaracterizar o exercício tornando-o propício a adulações ou, ao
contrário, a críticas incondicionais.... quer dizer o oposto à confiança e “falar a verdade” tão necessários a esta
prática.
Nossa empresa alterou o conceito de 360º com o objetivo de não mais
avaliar, mas de regular as relações internas de uma equipe. Desta forma a equipe pode se comprometer de
maneira sadia e serena.
Este número de nossa newsletter faz parte da problemática de uma equipe de direção, o rumo que
propusemos e os resultados obtidos.
“Isto irá, sem duvida, nos fazer
mal, mas é necessário!”
Em vista dos comentários da
equipe de nosso cliente a respeito da avaliação 360º, o Grupo a requereu e
solicitou o nosso acompanhamento.
Dentro do contexto desta
empresa, onde existe um abismo social e um passado recente conflituoso, a
equipe em questão sente necessidade de melhor funcionar em conjunto: somente a
boa coesão permitira um trabalho sereno com o restante da empresa e do Grupo.
Tranqüilidade a respeito da
ambigüidade entre avaliação e regulação
Para atendermos à solicitação de
uma avaliação 360º, apesar dos temores existentes, começamos por esclarecer a
diferença entre avaliação e regulação da equipe. Avaliar é situar um indivíduo em relação a
uma norma: é necessário para julgar sua evolução na carreira profissional.
Regular é ajustar sua forma de trabalhar em conjunto com os outros.
Uma avaliação 360º comporta duplo
risco: os resultados podem trazer conseqüências para a carreira da pessoa
avaliada, uma vez que os que respondem a avaliação o fazem em função das
conseqüências previsíveis de suas respostas, seja para protegê-la seja – mais
raramente – para precipitar sua queda.
Alem disto, os resultados são freqüentemente apresentados à pessoa de
uma maneira tal que ela é incapaz de identificar o que deve fazer para
progredir em função do julgamento que é feito dela. Em razão disto adotamos a
avaliação 360º com a finalidade única de regulação.
Do que não se costuma falar: a
maneira de assumir o seu papel
Nosso objetivo é, portanto, de
visualizar as divergências de percepção: trata-se de poder dizer, por exemplo,
a um gerente satisfeito por costumar delegar bastante, que seus colaboradores
preferem que ele os auxilie a decidir; ou ao contrário, que a delegação que
ele acredita lhes dar não é entendida como real.
Tal troca não é possível se os
envolvidos têm o sentimento de estar em perigo, sobre um assunto que cada um
entende ser particularmente sensível. A mediação de um apoio simples e o
respeito a algumas regras permitiram que isto fosse feito na equipe em questão.
Apoio simples e anônimo
O apoio consiste em uma lista de
quinze comportamentos profissionais. Sua característica é que não são nem positivos
nem negativos na medida em que poder ser mais ou menos vantajosos. Por exemplo,
“informar”: pode se estimar que um chefe
retenha informação ... ou, ao contrário, que ele inunde seus colaboradores com
informações inúteis.
Para cada um dos comportamentos,
o colaborador deve atribuir um número de +2 a -2 indicando sua expectativa. Os
resultados obtidos são apresentados ao chefe sob a forma anônima de uma estrela
síntese.
Esta estrela não se destina a
integrar um dossiê de avaliação. Seu caráter não cientifico é desejável em
vista do que dela se espera: o importante é a mudança que ela irá promover, com
base nas divergências de percepção que evidencia.
O Conselho se faz presente para
cada um como forma de esclarecer no momento certo
A pessoa que está tendo suas
atividades reguladas recebe sua estrela ... isto é, geralmente, para ela um
momento de teste. Uma conversa com o conselho lhe permitirá dividir as suas
surpresas (eu não compreendo, na verdade, porque dizem que eu devo me preocupar
mais com eles se eu conversei, com cada um, a respeito de sua respectiva
carreira”), sua hipóteses (“neste ponto, eles dizem isto, deve ser
porque....”) mas também o que não
representa surpresa (“planejar com antecedência ... sim é verdade, eu estou
sempre trabalhando em caráter de urgência, nunca consegui trabalhar de outra
forma”). Ele sabe a partir de agora, o
que solicitar aos seus colaboradores ou colegas e pode se perguntar o que ele
pode ou deseja mudar.
É o comprometimento coletivo que
permitira à chefia modificar o dia a dia
A maneira de interpretar difere
conforme o objetivo, de regular a relação entre um gerente e seus colaboradores
ou entre pares dentro de uma equipe.
Na presença de uma equipe e seu
chefe, a estrela identificando as características de cada um é distribuída de
forma a permitir que cada um reaja sobre aquilo que o surpreende. A partir
disto é nosso papel provocar uma mudança de cada um dos comportamentos que a
estrela revela que devem ser alterados por parte dos colaboradores. Nesta etapa que pode durar 3 horas,
convencionamos com o dirigente que ele não tomará a palavra a não ser para
apresentar perguntas relacionadas com a compreensão. Nós temos freqüentemente constatado que os
colaboradores são capazes de expressar, ao gerente, o que lhes incomoda, sem
agressividade e sem se esquivar.
O gerente, por sua vez, toma
consciência da maneira de como sua forma de administrar é percebida, e quais as
conseqüências de tal percepção sobre os seus colaboradores. A partir deste ponto passa a lhe ser possível
alterar certas maneiras de ser ou fazer, de maneira individual ou com a ajuda
de seus colaboradores....assim como faz admitir que outros não poderiam
evoluir.
A nova formula do exercício 360º
faz emergir a confiança dentro da equipe.
Colateralmente o princípio
inicial é o mesmo : Cada um dos membros da equipe preenche um questionário
sobre os outros e depois recebe a estrela que se refere a ele, devendo refletir
individualmente com o Conselho sobre aquilo que ele compreende.
Por outro lado, não seria
razoável apresentar a estrela ao restante da equipe. Ainda que elas não tenham
valor científico, pode ser entendido que quanto mais numerosas as mudanças
desejáveis, “menos bom é o elemento”. Se
deve, portanto, evitar a comparação entre os integrantes de uma equipe composta
por pessoas que trabalham juntas todos os dias, competindo algumas vezes entre
si a respeito de uma ascensão de carreira ou reconhecimento da chefia.
Para evitar isto, começamos a
reunião por representar, através de um esquema, a complexidade das relações
entre dirigentes, como forma de fazer tomar consciência da importância de uma
regulação mutua. Uma segunda etapa consiste em provocar breves encontros
pessoais entre os integrantes da equipe, para que possam exprimir uns aos outros
as qualidades e defeitos que identificam respectivamente. O grau de confiança
que este exercício produz permite em seguida que cada um apresente de maneira
serena as duas ou três questões que sua própria estrela lhe traz.
Reforçada por esta experiência, a
equipe pode adquirir, de maneira duradoura, a confiança mútua: ela reformulou
seu próprio funcionamento ainda que isto fosse considerado um tabu três meses
atrás.